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Bruford & Borstlap
Sheer Reckless Abandon
CD Summerfold Records 2019

 

 

A lenda Bill Bruford construiu-se pela participação como fundador do grupo de rock progressivo (sinfónico) Yes, e mais tarde nos King Crimson, mas ele manteve-se activo desde então e até 2019, quando se aposentou. Ao longo da sua vida ele notabilizou-se como baterista de rock progressivo, Jazz/ rock ou fusão Jazz/ rock, e em todos os grupos por onde passou ele deixou a sua marca. Mais do que um compositor ou um líder, que foi também, ele é um baterista por excelência, e sempre muito mais do que um mero sideman.

Bill Bruford foi um dos mais importantes bateristas de rock de sempre. Bruford decidiu ser baterista depois de ter visto na BBC, com apenas 15 anos, num programa onde passavam bateristas de Jazz. Autodidacta numa primeira fase, ele haveria de ter como professor um baterista de Jazz.

Depois de sair dos Krimson, Bruford espalhou a sua actividade ao lado de Roy Harper, Django Bates, Robert Fripp e Tony Levin, o experimentalista David Torn, Chris Botti, Trey Gunn, Patrick Moraz, como líder dos Earthworks (que esteve em Guimarães nos anos 90), no projecto THRAK, ou ainda, numa aproximação ao Jazz mais mainstream e acústico com Eddie Gomez e Ralph Towner ou Michiel Borstlap.

Sheer Reckless Abandon (2019) reúne três discos esquecidos resultantes do encontro de Bruford com o pianista holandês Michiel Borstlap de 2002 a 2004, e é um dos exemplos maiores de como o Jazz esteve sempre presente em Bill Brufford.

Gravados ao vivo, o repertório oscila entre a fusão e o Jazz acústico, mergulhando ocasionalmente no universo de Thelonious Monk, abandonando-se ao Jazz, cedendo ao classicismo do piano de Brorstlap, emulando os Weather Report ou explodindo de electricidade.

Nada sugeriria que os dois músicos se tinham acabado de encontrar quando se sentam ao palco em Nijmegen (2002). E se Brorstlap é um excelente solista, Bruford é ele mesmo uma orquestra. O duo funciona como uma unidade, com os dois músicos a ganhar com o encontro. Piano, bateria, electrónica, caixas de ritmos, loops, melodia, fogo de artifício, tudo é autorizado e consequente na música de Brorstlap e Bruford; tudo é pertinente na aventura.

Não será o melhor de Bruford (eu reservo a minha preferência para os dois King Crimson, Starless and Bible Black e Larks' Tongues in Aspic), mas esta descoberta ofereceu-me mais de horas de «puro prazer melómano». E será uma injustiça esquecer Michiel Borstlap, que se revela a alma gémea de Brufford no piano acústico ou nos teclados; apenas Bill Bruford é um baterista de excepção.

Agora que Bill Bruford se dedicou aos netos, talvez, é altura de o reouvirmos. Não é um disco (três discos) de Jazz tout court, mesmo se o Jazz se passeia por ele, mas este Sheer Reckless Abandon é um deleite.

Bill Bruford (bat, elec)
Michiel Borstlap (p)

(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)